quinta-feira, 20 de abril de 2017

traço_destraçado | 027

condenados concentrados

tenho pena de ser gente | sendo sou da espécie | dos que querem  ter a pena | a minha resulta na escrita que com ela vou fazendo | não sendo pena de penas em tinta de tinteiro | escrevo com os dedos em pontas | vale a pena pensar nos tempos da outra pena de penas | tempos penosos esses | os escribas prostrados em pau duro desenhavam as sentenças | penas | para os prostrados na estirpe | farrapos na espécie | enrolados na escuridão da lua ousaram ser fora de casta | filas de enxutos astutos | penam | engodam | marralham | a força | epifania | em grito de selva | atam rédeas | acoiçam nas margens do rio que caminha penosamente | sou da espécie |pena em ser | esguelho o espaço e deus não está não habita é nuvem de penas  | estilhaços que esbracejam em sufoco | são rançosos os projéteis bociferados do palanque que se eleva em pequenez | voltar a ter a pena | e os títeres concentrados | latas de vazio | mãe de todas as latas |até as mães são outra coisa que não mães de parir o amamentado de toda a vida | o escriba reinventou a mãe | que cuida de exterminar todas as mães | que não choram | nao apertam os filhotes aos seios | perfuram os olhares em silêncio de morte | pena | e é mãe | mãe | bomba de todas as bombas | escreve em manto de negrume | nuvem suja veste a luz ausente | gritaria da espécie | murcham os dedos salpicados de medos | pintarolas | engomados | enganados | concentrados | muros armadilhados | pena | o fulano | da espécie | quer a pena de penas | de ave | para desenhar a pena da morte | deus não habita aqui | tenho pena para escrita só 

eugeniohenrique 20/04/2017


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