domingo, 29 de março de 2009

sem poema

Perder é sempre qualquer coisa que nos torna frágeis, a mim acontece isso. Preparamo-nos desde muito novinhos para ir perdendo, perdendo coisas, perdendo amigos, perdendo a ingenuidade, perdendo a elegância, perdendo... perdendo... Por momentos essa perda, sai de cena, por rotina no não pensar nela. Há outras coisas que nos vão ocupando e por isso, não vale a pena estar perdendo o tempo a pensar na perda no tempo. Lembro-me de coisas e pessoas que não quis perder. Lembro-me de ter perdido a linha de muitos amigos. Lembro-me de ter perdido espaço e ter deixado ficar sem preencher algum desse espaço que perdi. Prencher! curiosa palavra esta, que me ocorreu, nesta escrita. Preencher o quê? como?, com que sentido se preenche o espaço que nos configura? Deixarei para outro momento de escrita esta reflexão. Mas prometo que não a vou perder de vista. Ou talvez sim, como em muitas outras ocasiões. Tornamo-nos perfeitos na perda perdendo. Será assim? Ouvi uma voz de uma menina de treze anos, dizer-me, meigamente: "professor, não se preocupe é preciso seguir em frente". Como me senti frágil nesse momento. Afinal haverá uma possibilidade de seguir em frente mesmo perdendo. Afinal nem tudo será mau quando perdemos. Acontece que não sou de ferro e quando te perco, mãe, também me perco um pouco. Não há nada de estranho nisto. Há, porventura, o estranho caso de não te ver mais. Estranho? Foste-me preparando para te perder e na verdade perdi-te. Não é nova esta minha sensação de perda. Por várias vezes me preparei para perder e por todas elas morri. Perco-me no espaço que configuro para mim. Desenho-me na linha curva do meu ser. Doeu muito, muito, quando te perdi. Deixo a voz do silêncio, cuidar dessa dor. É, de resto, o silêncio que me afaga e me traz, por cá, na perda de ti. Cuida de mim. Cuida para que eu possa cuidar.